TDAH e relacionamentos: entre a intensidade e os desafios
- Luciana Rocha

- 20 de out.
- 4 min de leitura

Quando atendo casais em que uma das pessoas tem TDAH, quase sempre aparece o mesmo: muita intensidade e muito desgaste. Há brilho, curiosidade, afeto grande. E também atrasos, esquecimentos, impulsos, promessas não cumpridas. Se este é o seu cenário, quero te dizer que há explicação e caminho.
O que costuma aparecer no dia a dia
Intensidade emocional:
Sentir “tudo muito” é comum. Alegria alta, irritação rápida, frustração que dói. O cérebro troca de marcha mais depressa que o relacionamento aguenta.
Hiperfoco que vai e vem:
Em alguns momentos a atenção gruda em um tema e o resto desaparece. Em outros, tarefas simples somem do radar. Para quem convive, parece desinteresse. Na prática, é um padrão de atenção oscilante.
Esquecimentos que viram feridas:
Aniversários, compromissos, compras básicas, mensagens não respondidas. Para a pessoa com TDAH, é “sumiu da cabeça”. Para quem recebe, pode soar como “não se importa comigo”.
Tempo elástico:
A dificuldade de perceber duração real faz chegar atrasado, subestimar tarefas, perder prazos. A vida a dois entra em modo corre-corre.
Rejeição à flor da pele:
A crítica bate mais forte. Pequenos comentários soam como rejeição. Isso cria defensividade e ciclos de briga.
Como quebrar os ciclos mais comuns
Tradução de intenções:
Em vez de “você nunca lembra”, tente “quando você esquece, eu me sinto sozinha; como podemos garantir que isso entre no seu radar”. Falar do efeito sem atacar preserva a conexão.
Acordos visuais:
Listas na geladeira, etiquetas, quadro branco, calendário compartilhado. O que não está à vista, o TDAH trata como se não existisse. Visual ajuda a memória trabalhar a seu favor.
Relógios por todo lado e timers:
Relógio no banheiro, na cozinha, na sala. Alarme para sair de casa, começar a se arrumar, finalizar tarefa. Três alarmes simples evitam dez discussões.
Reunião de 20 minutos por semana:
Definam um momento fixo para revisar agenda, finanças pequenas, tarefas da casa e programar lazer. Sem acusações. Só coordenação. O relacionamento precisa de “logística amorosa”.
Divisão de tarefas por perfil de energia:
Tarefas curtas e com começo-fim claro para quem tem TDAH. Tarefas longas e silenciosas para quem tolera melhor monotonia. Alternem para não sobrecarregar ninguém.
Corredores livres de distração:
Ambientes específicos sem telas quando for hora de conversar, cozinhar juntos ou dormir. O vínculo precisa ter chance de competir com o celular.
Reparo rápido depois do atrito:
Três passos simples: reconhecer o estrago, validar o sentimento do outro, propor ajuste concreto. “Eu errei no tom, entendo que doeu, vou te avisar com antecedência quando eu estiver sobrecarregada.”
Dicas práticas para quem tem TDAH
Comece pequeno e visível:
Uma caixa de entrada na porta de casa para chaves e carteira. Um único app para tudo. Um caderno só. Reduzir opções diminui a chance de se perder.
Use o corpo para lembrar:
Post-its, pulseira, toque no bolso, alarme com etiqueta clara “sair de casa”. Memória externa é aliada, não muleta.
Quebre tarefas em micro passos:
Em vez de “organizar a sala”, faça “guardar livros”, “dobrar mantas”, “jogar o lixo”. Concluir pequenos blocos gera dopamina e mantém você em movimento.
Peça ajuda com antecedência:
Diga “eu quero acertar e preciso de um lembrete hoje às 18h”. Parceria funciona melhor quando é combinada, não adivinhada.
Considere tratamento:
Terapia, psicoeducação, coaching de TDAH e, quando indicado, medicação. O objetivo não é te transformar em outra pessoa. É facilitar o caminho até o que importa.
Dicas para quem convive
Elogio que precede cobrança:
Comece reconhecendo esforço real. Depois faça o pedido específico. Elogio não é prêmio, é combustível para mudança.
Seja específico:
“Pode pegar as crianças às 17h e me avisar quando sair” é muito melhor do que “não esquece as crianças”.
Escolha batalhas:
Definam o que é inegociável e o que é estilo pessoal. Padrão de meia no chão pode ser incômodo, mas talvez a prioridade seja pontualidade e comunicação.
Cuide de você:
Parceiro cuidador que não se cuida vira ressentimento. Tenha espaços próprios, terapia se possível, e redes de apoio.
Sobre intimidade e afeto
TDAH pode afetar desejo, presença e continuidade. Combinem códigos simples para dizer “agora não” e “quero tentar mais tarde”. Criem rituais de proximidade sem meta de transar. Beijos longos, banho juntos, massagem rápida. Desejo gosta de segurança e previsibilidade.
Quando buscar ajuda
Se as brigas são repetitivas, se promessas não se sustentam, se há sofrimento significativo para um ou para os dois, vale avaliação profissional. Às vezes, uma única sessão de psicoeducação muda o clima da casa. Em outras, acompanhamento e ajustes finos devolvem leveza.
Eu atendo em Cuiabá e online. Se você se reconheceu neste texto, podemos conversar e desenhar acordos que façam sentido para a sua realidade. TDAH não é sinônimo de caos. Com informação, ferramentas certas e cuidado, a intensidade vira potência e o vínculo fica mais seguro.
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👩⚕️ Drª Luciana Rocha | Médica Psiquiatra | CRM MT 8537 | RQE 5413
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